quinta-feira, 10 de maio de 2012

A escravidão na África



Apesar de em cada região a escravidão possuir suas características específicas, uma delas pode ser encontrada na maioria, os escravos eram  vistos como “estrangeiros”, ou seja, diferenciavam-se em seus costumes, crenças, etnias ou qualquer outro fator que não os relacionassem com os seus senhores. Acreditavam que era mais fácil dominar um desconhecido do que seu próprio povo, apesar de ambos os casos acontecerem.
Na África a escravidão resultou em transformações tantos sociais, como políticas e econômicas, sendo que estes eram o principal produto do comércio exterior.  Dessa forma, o escravo era visto como mercadoria. Os escravos estrangeiros com o passar do tempo começavam a compreender e aceitar a cultura vivida pelo seu senhor. Aquele que nascia sob o jugo da escravidão não tinha a experiência traumática de conhecer a liberdade e perdê-la, nesse sentido a escravidão era herdada. Um escravo que tivesse vivido por um longo período no mesmo lugar poderia ter a sorte de ser considerados mais do que apenas uma mercadoria.
A escravidão conforme o texto, poderia se encontrar juntamente com outras formas de trabalho: que incluía a servidão, a clientela, o trabalho assalariado, o penhor e o trabalho comunal. A identidade do escravo se percebia através do seu senhor, já que este era responsável por cada ação de sua “propriedade”, entenda-se o escravo. Contudo, não havia uma classe escravista, pois para isto é preciso haver uma consciência de classe.
A vida inteira do escravo dependia dos seus senhores. Com quem se casariam, se teriam filhos, tudo isso era decidido pelo seu senhor. As mulheres podiam ser feitas suas concubinas ou esposas, dessa forma, os escravos poderiam ser encontrados em serviços domésticos ou sexuais. No caso dos serviços sexuais, a reprodução se direcionada para a economia já que os filhos poderiam ser vendidos ou negociados de várias formas, gerando dessa maneira alguma “receita” para o proprietário das escravas.
Há três características de escravidão que o autor destaca: primeiro a escravidão como uma característica marginal da sociedade, segundo como uma instituição e por fim como um modo de produção.
Outra forma de dependência era a penhora. Esse sistema previa que se um indivíduo tivesse alguma dívida ele poderia pagar com trabalho. Os laços de parentesco eram importantes, pois se esperava que algum parente do indivíduo devedor pagasse ao credor a quantia combinada. Por isso aqueles que acabavam por trabalhar para pagar a dívida, eram tratados de forma diferente que um escravo “comum”. As famílias eram geralmente conhecidas dentro desse tipo de sociedade, daí o respeito pelos penhorados. Legalmente nesse caso não se podia vender o indivíduo penhorado.
A princípio os escravos no seio da sociedade islâmica, eram prisioneiros das guerras em que os muçulmanos tratavam visando a expansão do Islã através da região do golfo Pérsico e norte da África. A justificativa para a escravização dos derrotados era que, como não eram seguidores de Maomé os infiéis deveriam ser doutrinados nas normas do Alcorão. Os escravos não eram necessariamente negros ainda que estes fossem a maioria. Judeus e cristãos eram os únicos a não serem escravizados. O fato de que a necessidade de escravos existia para os povos islâmicos, fez com que povos árabes buscassem na África esse tipo de mão-de-obra. Embora as leis islâmicas proibissem que um fiel fosse escravizado muitas vezes isso foi ignorado. Os escravos trabalhavam principalmente em fundações domésticas (incluindo sexuais), ou em serviços militares. Mas também podiam trabalhar na produção, como por exemplo, nas minas de sal.
A abertura do atlântico ao comércio na África proporcionou a esse continente um maior volume de transações escravistas, além de retirar a África de certo isolamento comercial e porque não cultural. A transformação que ocorreu internamente nos âmbitos escravistas acompanhou a procura européia por escravos, bem diferente do trato com os islâmicos.
Sabe-se que a escravidão se deu muito antes da chegada dos islâmicos na África, porém com o tempo a escravidão passou a ser uma instituição fundamental naquela sociedade.
Com essa expansão tornou-se possível usar os escravos de novas formas, trabalhando na escala de produção de bens, como o ouro, mercadorias agrícolas, manufaturados e o sal.
O autor explica que a influência islâmica, o comércio com os europeus e a própria relação interna de escravos, foi determinante no desenvolvimento da escravidão na África. Desse modo, a escravidão tornou-se uma instituição e não mais apenas uma característica periférica. Até o século XIX a escravidão foi determinante para mover as sociedades, em seus aspectos políticos, econômicos e sociais.


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